Compreendido diferentemente consoante as épocas, as correntes estético-literárias, os géneros e subgéneros narrativos, o herói é marcado por uma projecção ambígua: por um lado, representa a condição humana, na sua complexidade psicológica, social e ética; por outro, transcende a mesma condição, na medida em que representa facetas e virtudes que o homem comum não consegue mas gostaria de atingir – fé, coragem, força de vontade, determinação, paciência, etc. O heroísmo que resulta em autossacrifício chama-se martírio.
O herói será tipicamente guiado por ideais nobres e altruístas – liberdade, fraternidade, sacrifício, coragem, justiça, moral, paz. Eventualmente buscará objetivos supostamente egoístas (vingança, por exemplo); no entanto, suas motivações serão sempre moralmente justas ou eticamente aprováveis, mesmo que ilícitas. Aqui é preciso observar que o heroísmo caracteriza-se principalmente por ser um ato moral.
Existem casos em que indivíduos sem vocação heroica protagonizam atitudes dignas do herói. Há também aqueles em que os indivíduos demonstram virtudes heroicas para realizar façanhas de natureza egoísta, motivados por vaidade, orgulho, ganância, ódio, etc. É o caso dos caçadores de fortuna (piratas, mercenários, etc). Tais exceções não impedem de serem admirados como heróis; no entanto, serão melhor representados no arquétipo do anti-herói.
Através das histórias e quadrinhos, do cinema e de outras mídias, a cultura de massa popularizou a figura do ’’super-herói’’, que são indivíduos dotados de atributos físicos extraordinários como corpo à prova de balas, capacidade de voar, etc. Merecem explicação à parte (vide super-herói).O heroísmo é um fato profundamente arraigado no imaginário e na moralidade popular. Feitos de coragem e superação inspiram modelos e exemplos em diversos povos e diferentes culturas, constituindo assim figuras arquetípicas. Situações de guerra, de conflito e de competição são ideais para se realizar feitos considerados heroicos.
A inspiração heroica surge muitas vezes a partir da problemática imposta por um ambiente ou situação adversa, cuja solução exija um feito grandioso ou um esforço extraordinário. A França dominada pelaInglaterra, por exemplo, fez surgir uma Joana d’Arc. A inspiração heroica surge também de uma necessidade nata de aceitar um desafio que pareça atraente. É o caso de Teseu, personagem da mitologia grega, cujos atos heroicos foram inspirados pelo desejo de ser tão conhecido e admirado quanto seu ídolo Hércules.
Há ainda a ocasião em que indivíduos de qualidades ordinárias confrontarão situações que exijam dele feitos heroicos. Pode-se citar como exemplo o caso de Orestes, personagem da mitologia grega. Ainda que não tenha nenhum atributo heroico, Orestes é moralmente obrigado pelo deus Apolo a vingar o pai Agamemnon, assassinado por Clitemnestra e o amante dela. O mesmo tema está presente na peça Hamlet, escrita por William Shakespeare.
A exemplo da moral, a inspiração heroica também é relativa. Em uma sociedade voltada para a guerra, o herói será o indivíduo que pratica proezas em nome do conflito. O guerreiro Aquiles, por exemplo, é um herói. Para uma cultura voltada para a paz, esse mesmo indivíduo poderá ser repudiado como herói. Dependendo da inspiração, a mesma cultura poderá conceder ou remover o status de herói de um indivíduo que a ela pertence.
O caso de Aquiles é bastante especial, quando se trata na sua relação heroica de ser. Ele representa um herói em conflito, pois é um herói sem húbris(sem medida, transcrição latina), mas é ao mesmo temo um belo candidato à bela morte, de acordo com Vernant, pois é belo, guerreiro e jovem. Já ao contrário, Heitor é o modelo de herói perfeito, pois é o agathós (bom e justo) e controla as suas atitudes, ao contrário de Aquiles.
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